terça-feira, 31 de dezembro de 2013

' A Invasão Britânica' (1964): Parte 1



Musicalmente, o ano de 1964, em Portugal, começa com o Festival de Ritmos Modernos no Teatro Monumental. Realizado a 11 e 12 de Janeiro nele participam Zeca do Rock, Nelo e o Conjunto Luís Costa Pinto, Fernando Conde e os Electrónicos, Daniel Bacelar e os Gentlemen, Madalena Iglésias e Marina Neves. Poucas semanas depois, a 9 de Fevereiro de 1964, os Beatles chegam aos Estados Unidos, tocam no Ed Sullivan Show, o mundo muda. Apesar de Salazar querer o país "pobre mas independente", Portugal não escapa à "invasão britânica” e, mesmo se “devidamente” controlada, esta alastra-se por todo o país. Tudo o que está para trás – rock ‘n’ roll, twist, instrumentais à Shadows - deixa de interessar ou passa para segundo plano…



Com instrumentos comprados na Casa Gouveia Machado, em Lisboa, começam a formar-se dezenas de conjuntos a tentar imitar os Beatles. Os Rockers e Os Galos de Guimarães, Os Fantasmas de Unhais da Serra, Vagabundos do Ritmo de Évora, Conjunto Manchester da Covilhã, Kings de Caldas de Vizela, o Conjunto Nice 64,Os Gaúchos, Os Martinis, são alguns dos nomes dos novos grupos formados neste ano mas dos quais não resta nenhum registo. 




Mas duas bandas formadas neste ano iriam a marcar o panorama musical dos anos seguintes: os Sheiks e os Ekos.

sábado, 8 de junho de 2013

"Os Verdes Anos" (1960-1963): Parte 9



Já com algum nome dentro de outros géneros, 1963 é também o ano em que Paula Ribas vinga no twist. Nascida em Faro, Paula Ribas estreia-se ainda na década de 50 no Serões para Trabalhadores, conseguindo nos anos seguintes actuar por todo o país e até ter projecção internacional. Em 1963 grava a música pela qual hoje é conhecida, Vamos Dançar o Twist, onde tenta ensinar os passos dessa dança. A sua carreira prolonga-se por mais uns anos cruzando-se regularmente com as novas correntes pop/rock sobretudo no final da década de 60, apostando sobretudo em versões das quais se destaca a versão de “Pena Verde” de Abílio Manoel.

 
Entretanto, na ilha da Madeira, já se tinha formado aquele que viria a ser um dos maiores fenómenos de popularidade da década de 60, o Conjunto João Paulo, e no continente, em Campo de Ourique, formavam-se os Ekos. Por esta altura já os Beatles tinham aparecido, muito discretamente, na imprensa portuguesa e, no final do ano de 1963, sai a primeira edição portuguesa dos quatro de Liverpool, um disco com quatro faixas: She Loves You, Twist And Shout, Do You Want To Know A Secret e I'll Get You.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

"Os Verdes Anos" (1960-1963): Parte 8



O segundo destes novos eventos é organizado pelo Cinema Roma, em Lisboa, para promover o filme Mocidade em Férias (Summer Holiday,1963) de Peter Yates com Cliff Richard e os Shadows. Intitulado Concurso de Conjuntos Portugueses do tipo dos The Shadows este ocorreu ao longo de Setembro de 1963 e participaram um total de 22 conjuntos. Tendo como “critério de avaliação a semelhança com os Shadows” chegaram à final, realizada no dia 4 de Outubro, os Panteras do Diabo, Nelo do Twist e seus Diabos, Os Titãs, Daniel Bacelar e os Gentlemen e o Conjunto Mistério de Fernando Concha (inscritos como Mascarilhas).
 
(retirado de guedelhudos.blogspot.com)
Oriundos de Matosinhos, Os Titãs eram constituídos por Fernando Costa Pereira, João Lourival, Simões Carneiro e João Braga e gravam logo em 1963 o seu disco de estreia onde, em versões instrumentais surf, ou à Shadows, “há desde o folclore, representado pela Canção da Beira e Vira da Nazaré, até à balada de Coimbra”. Nesse mesmo ano vêem editado mais um EP onde está incluído o seu Tema para Titãs. Com carreira interrompida devido ao serviço militar, em 1967 anunciam o seu regresso com uma nova formação, que incluía José Lello no saxofone e voz, o que desde logo indiciava uma mudança no seu som. No entanto, é apenas dois anos depois, em 1969, que gravam aquele que seria o seu último EP. Um disco com uma consistência e maturidade quase raras em Portugal ao enveredar por sonoridades beat com toadas psicadélicas, desta vez cantando em inglês mas também fazendo uma versão de uma música tradicional de Miranda do Douro, Mira-me Maria (no original Mira-me Miguel). Separando-se pouco depois, José Lello ainda tenta uma carreira a solo antes de ingressar na política.

(retirado de underrreview.blogspot.com)
Formados a partir de ex-membros do Conjunto Nova Onda, o Conjunto Mistério são hoje conhecidos pela sua imagem de marca, o uso de mascarilhas. Constituídos por Luís Waddington, Edmundo Silva, Michel Mounier e António Moniz Pereira, tornaram-se rapidamente um dos mais famosos conjuntos de então, reconhecidos pelo seu "virtuosismo, experiência e simplicidade de meios empregados, não olvidando clara noção rítmica", como descreve o Diário Popular de então, e pela adaptação de musicas populares portuguesas, como Coimbra Menina e Moça, Alecrim aos Molhos e Oliveirinha da Serra. O Conjunto Mistério ficou também conhecido por ter acompanhado nomes tão diversos como Fernando Concha, Duo Ouro Negro e Dário de Barros. Com a entrada de Edmundo Falé para as vozes e Edmundo Silva a sair para os Sheiks, pelo Conjunto Mistério passaram ainda Mário Terra e mais tarde José Cid. Com estas alterações começa-se a assistir um afastamento do som “à Shadows” para aproximações aos Beatles. Mas o conjunto opta por terminar e alguns membros juntam-se para formar o que seria o Quarteto 1111.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Os Verdes Anos" (1960-1963): Parte 7



O outro participante do Concurso do Rei do Twist, Fernando Conde, filho do empresário Arlindo Conde, começou a cantar influenciado não pelos Shadows, como a maioria de então, mas pelo rock 'n' roll americano dos anos 50. Primeiro acompanhado pelos Las Vegas, e depois pelos Electrónicos, Fernando Conde estreia-se na festa de coroação do Rei da Rádio de 1962. No ano seguinte consegue um segundo lugar no concurso para eleição do "Rei do Twist" do Monumental. Tornava-se assim "uma estrela do Rock ‘n’ Roll em Portugal”.
 “Elegante, sempre bem vestido, com fatos apropriados (alguns brilhantes), com franja, poupa e cara de menino de coro, mas possesso duma certa expressão rocker”, segundo António Duarte no seu A Arte Eléctrica de Ser Português, Fernando Conde era o modelo acabado do Cliff Richard português, ídolo à reduzida escala nacional, de meninas colegiais com "emoções" à flor da pele e de rapazes ávidos por bailes, divertimentos e aventuras”. 

Entre 1963 e 1964 percorre o país acompanhado pelos Electrónicos, quatro rapazes com idades entre os 16 e os 19 com "aspecto de jovens saudáveis, apesar de bastante magros", segundo a Plateia, mas separa-se deles pouco depois, porque, como o próprio afirmou, "o desejo de independência é sempre peculiar aos jovens". Em 1965 junta-se aos The Satins, banda de Liverpool que se encontrava em Portugal como residente do Casino da Póvoa do Varzim e que fizera uma das primeiras partes do concerto dos The Searchers no Monumental, chegando a gravar um EP com eles. Em 1966 ainda tenta a carreira internacional, actuando em Madrid, mas a iminência do serviço militar pôs um fim à sua carreira. 


Do último participante, Nelo do Twist, pouco se sabe. Depois de se ter estreado com êxito em 1963 num espectáculo no ABC, decide abandonar o seu trabalho de vendedor de carros e enveredar numa carreira musical cantando, segundo o próprio em entrevista à Plateia, “sempre dentro da música moderna de Jazz”. Sem grande sucesso – nunca chegou a gravar - em 1965 é noticiado o seu abandono do twist para se dedicar ao fado em Madrid, uma vez que "em Portugal os artistas são como frigoríficos...Só fazem falta no Verão..."